Navegação segura para Stand Up Paddle.

Entrevistamos Ricardo Machion, velejador oceânico e especialista em navegação segura.

Para saber sobre técnicas de navegação aplicadas à pratica do Stand Up Paddle, Ricardo Machion deu um entrevista ao Ibrasurf com explicações sobre o assunto:

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Ibrasurf: A quanto tempo você pratica o Stand Up Paddle e qual a sua relação com esse equipamento?

Ricardo Machion: Pratico Stand Up Paddle a seis anos, mas surfo com pranchas de tamanhos similares a 28. Sempre pratiquei a remada em águas abertas, mas na época ainda não dispúnhamos do equipamento de Stand Up Paddle, então em dias sem onda como não suportava ficar na areia da praia sem fazer nada, pegava meu pranchão e atravessava de uma praia para outra remando. Como tenho quase 2 metros de altura, já usava pranchas com muita flutuação e que me proporcionavam um fácil descolamento, já era um praticante de Paddleboard sem saber.

Ibrasurf: Na água como se divide os praticantes da modalidade?

Ricardo Machion: Bom, podemos começar dividindo os que remam em águas abrigadas (Rios, Lagos, Lagoas e Represas) e os que remam em águas abertas (Oceano).

Não é comum encontrar algum praticante que reme apenas água abrigada ou água aberta, os grupos são mais divididos dentro das duas águas por tipo de equipamento, quem pratica Sup Wave por exemplo, dificilmente remará muito em águas abrigadas, pois seu equipamento é projetado com menor flutuação uma vez que surfará impulsionado por uma onda, utilizando o remo para manobras mais do que para impulso. Pranchas como os modelos cruiser ou touring são voltadas para passeios, possibilitando distâncias maiores numa remada mais confortável por flutuarem bastante, permitindo transportar mais de 100kg de carga e esse é atualmente o modelo mais encontrado tanto em águas abrigadas, como em águas abertas.

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Ibrasurf : Quais os equipamentos indicados para o praticante do Stand Up Paddle?

Ricardo Machion: Primeiro ter claro qual será sua maior utilização, assim conseguirá comprar uma prancha adequada evitando por exemplo, comprar uma prancha grande demais para o seu uso. Depois de definida a prancha, um leash e um colete adequado ao peso do remador e além desses que são os equipamentos básicos, sempre é importante ter um sistema de hidratação, um boné claro que possibilite a visualização aérea, isto é, no caso de remar em águas abertas entre a depressão e a crista da onda, o remador será visualizado à distância. Um apito que no mar auxilia a direção mesmo com fortes ventos e uma lanterna caso não consiga retornar ao seu ponto de partida com a luz do dia, também são fundamentais. A noite, além do sinal sonoro, um sinal visual é o caminho mais fácil para a prestação de socorro.

Ibrasurf: O que significa navegação segura para o Stand Up Paddle?

Ricardo Machion: Sou velejador oceânico e as condições que uma prancha de Stand Up Paddle oferecem ao remar são quase as mesmas que algumas pequenas embarcações, por isso parto do princípio que elas são também uma embarcação. Existe basicamente duas áreas de prática nesse caso, nas praias dentro da linha de arrebentação, ou seja, a área de prática de surf em dias de onda e prática de remada em dias sem onda, essa é a área de recreação, pois não é permitido o tráfego de embarcações e o esporte é praticado dentro de uma área onde é possível o contato visual, tanto dos frequentadores como do grupamento de salvamento, mas a partir da linha de arrebentação inicia a área de navegação, onde as regras são outras.

Na área de recreação onde se pratica o Sup Wave por exemplo, dificilmente encontraremos um supista surfando com um colete, pois se espera que o praticante já tenha experiência com o surf, não existe ainda uma norma de utilização de colete para qualquer categoria de Stand Up Paddle, vai da conscientização dos praticantes, muitas pessoas com quem converso e que está remando sem colete por exemplo, dizem que sabem nadar, mas sabemos que muitas dessas afirmações são do tipo, sei nadar por que atravesso a piscina do condomínio de borda a borda nadando cachorrinho, mas no mar à uma distância de até 100 ou 200mts o buraco é mais embaixo, prevenção é para todos, experientes ou não. Outra coisa, na área de navegação as embarcações tem prioridade, as águas são como as ruas, existem regras, vias, obstáculos, uma embarcação não pode simplesmente alterar o seu rumo por conta de um remador desenformado, muitas vezes a embarcação não tem como desviar por falta de profundidade ou até mesmo por um naufrágio, uma pedra ou outra embarcação muito próxima. Lembre-se, no seu plano de saída para uma remada, a prioridade é ficar longe das embarcações e sempre bem sinalizado para que a mesma possa visualizar o remador e desviar a tempo caso necessite.

Ibrasurf: Em condições severas como o mal tempo, qual ou quais decisões tomar?

Ricardo Machion: É sempre muito importante verificar as previsões de tempo e também sempre que possível, consultar algum esportista, pescador ou morador local de onde se está partindo para uma remada.

O remador deve conseguir remar deitado sobre o seu Stand Up Paddle, isso significa, em caso de uma emergência, que a largura da prancha deve permitir que o remador consiga usar seus dois braços com eficiência, isso por que, muitas vezes uma condição intensa de vento pode dificultar a remada em pé, pois o corpo se torna uma área velica impedindo que se consiga desenvolver uma boa remada e muitas vezes desequilibrando o remador. Outro ponto importante é identificar de onde vem a corrente, pois remar contra a corrente leva o remador à exaustão, impedindo inclusive que consiga buscar ajuda, portanto, deve-se sair sempre na direção onde possa utilizar uma corrente por exemplo para facilitar o retorno, ou mesmo visualizar um local onde a corrente o levará em segurança, mesmo não sendo seu ponto de partida, assim conseguirá retornar para terra e pedir ajuda.

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Ibrasurf: O que você acha desse volume de novos praticantes?

Ricardo Machion: Acho muito bom para o esporte, hoje o Stand Up Paddle é um dos esportes que mais cresce no mundo, trouxe aos campeonatos atletas que estavam com a sua carreira quase que abandonada, levou para a água pessoas que jamais se imaginaram sobre uma prancha e todos nós passamos a explorar novos lugares de uma maneira muito saudável e sem poluição, mas todo lado bom tem seu lado ruim. Muitas pessoas estão aproveitando para ganhar o seu dinheiro fazendo locações de equipamento, o que não condeno, todos tem direito de trabalhar, mas para isso é preciso qualificação e responsabilidade e, infelizmente isso é apenas uma parte do problema.

Muitos remadores por si só compram um Stand Up Paddle e vão para a água sozinhos, sem um instrutor e muitas vezes sem uma companhia para uma emergência. É fácil demais aprender a remar, a prancha permite que o remador fique em pé e saia tranquilamente remando e isso dá uma falsa sensação de domínio do esporte, por isso o volume de acidentes tende a ser grande. É um esporte muito seguro, mas também muito novo e por isso se faz necessário conhecer seus detalhes para evitar experiências que podem ser traumáticas.


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