Recifes de coral (parte 2)

Por Renata Porcaro

Sabemos que os recifes de coral são ambientes muito ricos. Mas a diversidade de espécies encontradas em um recife de coral varia de acordo com aspectos:

– geológicos, ou seja, como o recife foi formado;

– biológicos, ou seja, quais organismos participaram do processo de formação e

– geográficos, que se referem à localização do recife e consequentemente às características químicas da água do mar daquela região.

Os recifes do Indo-Pacífico, por exemplo, são reconhecidos pela maior diversidade, apresentando quase o dobro de espécies de corais existentes nos recifes do Caribe, que por sua vez são mais diversificados que os do Brasil (figura 1). Mesmo com essas diferenças, os recifes localizados na costa brasileira apresentam altíssima diversidade biológica quando comparados com outros ambientes marinhos.

Na costa do nordeste do Brasil estão localizados os únicos recifes de coral de Atlântico Sul. Além do Atol das Rocas e Fernando de Noronha, as comunidades coralíneas estão distribuídas entre o Parcel de Manuel Luís (MA) (figura 4) até os recifes de Viçosa (BA) (figuras 2 a 4). Em 1967, Jacques Laborel publicou uma descrição geral completa de recifes de coral brasileiros, na qual destaca que recifes brasileiros são caracterizados por espécies endêmicas de gorgônias, esponjas e corais do gênero Mussismilia.

Os corais do gênero Mussismilia formam colônias maciças e globulares, fortemente presas no substrato. Podem atingir até mais de 1 m de diâmetro e as colônias vivas têm a coloração cinza e amarela esbranquiçada. As espécies Mussismilia braziliensis, Mussismilia harttii e Mussismilia hispida são endêmicas da fauna brasileira (figuras 5 a 7) e tem características arcaicas. As espécies Mussismilia braziliensis e Favia leptophylla (figura 8) apresentam o maior confinamento geográfico e são registradas apenas nos recifes da costa do Estado da Bahia, sendo o principal construtor das partes altas dos recifes da área de Abrolhos e da costa norte do estado.

Em outubro de 2002 o mesmo pesquisador voltou ao Brasil e mergulhou novamente nos recifes da costa pernambucana, onde estimou uma redução de até 80% da cobertura de coral nessas últimas quatro décadas. Essas áreas visitadas por Jacques Laborel passaram por diferentes processos de uso que incluem mineração de corais, pesca e turismo.

A exploração dos recifes no Brasil é histórica, e inclui retirada de blocos de arenito e corais para construções de fortalezas (até século XVII) e para suprir com cal a refinação de açúcar, usado como agente clarificador para o xarope de açúcar (até 1970).

Hoje em dia os impactos são diretamente relacionados às atividades humanas mais intensas e à poluição doméstica, e concentram-se principalmente ao redor das capitais dos estados. O turismo também ameaça áreas recifais, com ancoragem inadequada e vazamentos de óleo de embarcações, lixo, pisoteio (figura 9) e mergulhadores descuidados.

A pesca com bombas (figura 10) é outra atividade de alto impacto para os ambientes recifais. Essa prática criminosa ocorre na região nordeste e em muitas outras regiões do planeta e destrói não apenas os corais mas também o substrato e praticamente tudo ao redor, tornando a recuperação do ambiente muito difícil.

Em 1997 foi criada a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, ao longo de 130 km de costa, entre os estados de Pernambuco e Alagoas. Esta APA é a maior unidade de conservação federal marinha em e a primeira a proteger parte dos recifes costeiros da costa do nordeste.

Mesmo assim, devido ao uso desordenado ao longo dos anos, muitos ambientes recifais da costa brasileira e do mundo, principalmente os localizados em áreas mais próximas aos continentes, encontram-se em acelerado processo de degradação. Apesar das indicações dessa degradação, poucos estudos apresentam um panorama geral ou uma avaliação das principais causas antrópicas ou naturais.

Em uma coletânea de estudos sobre o status dos recifes de coral ao redor do mundo, realizado em 2002 pelo Australian Institute of Marine Science, foi estimado que 500 milhões de pessoas residentes em países em desenvolvimento dependam de alguma forma de ecossistemas de recifes de coral. Portanto, a qualidade destes ambientes afeta diretamente essas pessoas. O mesmo trabalho afirma que grande parte dos recifes de coral do mundo se encontra também fora de áreas protegidas.

Muitos países não contam com programas nacionais de proteção aos recifes de coral ou qualquer tipo de monitoramento desses ambientes e desconhecem, portanto, a extensão dos prejuízos em seus próprios territórios. Estudos de monitoramento dos recifes de coral são importantes devido à correlação encontrada entre eventos de branqueamento* e mudanças climáticas globais. A avaliação da saúde desses ambientes é imprescindível para dar início a qualquer ação de proteção e recuperação desses ambientes e para tentar frear as principais atividades geradoras de impactos.

 

Dúvidas e sugestões, me escreva: renata.porcaro@gmail.com.


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